Encontros Interdiocesanos de Formação - Conclusões

 

A LOC/MTC – Liga Operária Católica/ Movimento de Trabalhadores Cristãos, promoveu quatro encontros de formação, em março de 2016, nos dias: 12 em Braga para a Diocese de Braga; 13 em Aveiro para a zona centro; 13 em Setúbal para a zona Sul; 20 no Porto para a Diocese do Porto. Estes encontros em que participaram cerca de 200 militantes e simpatizantes do Movimento, tiveram por objetivo debater e aprofundar a Síntese das Revisões de Vida Operaria, recentemente efetuadas por dezenas de equipas de base da LOC/MTC, no âmbito da preparação do seu XVI Congresso Nacional, que vai realizar-se nos dias 10 e 11 de Junho de 2016.

Para ajudar a analisar a situação em que vivem a maioria dos trabalhadores, dos desempregados, dos reformados, das famílias, e discernir desafios e caminhos que possam contribuir para que haja trabalho digno para todos, como fundamento da dignidade humana, estiveram connosco, Américo Carvalho Mendes, José Manuel Pureza, Manuel António Ribeiro e Manuel Carvalho da Silva.

Da síntese das Revisões de Vida, da reflexão apresentada pelos referidos oradores e dos debates que se seguiram, destaca-se:

Uma política clara e deliberada de desvalorização do trabalho

Durante os últimos 3 anos, em que a LOC/MTC assumiu como prioridades de ação: “Sociedade Justa e Sustentável, com trabalho para todos”, foram muitas as mudanças na vida dos trabalhadores e das suas famílias, infelizmente para pior, na generalidade.

Desenvolveu-se uma política clara e deliberada de desvalorização do trabalho, num processo de destruição do contrato social com uma estratégia progressiva de transferência dos rendimentos do trabalho para o capital, através da diminuição de salários e pensões e da retirada de direitos do lado do trabalho.

Expandiu-se o primado das relações mercantis a todas as dimensões da vida, que geram desigualdades e desumanização em que a mercantilização do trabalho, considerado e aceite, socialmente, como mercadoria, afasta dos direitos e da dignidade das pessoas, o mundo do trabalho.

Alimentou-se a ideia dos riscos que, por sua vez, geram vários cenários de Medos: Medos (velhos) dos colegas, das chefias, de perguntar, de perder o emprego, de falta de futuro (especialmente a juventude); Medos (novos) do clima, (há décadas não se pensava muito nisso), dos off Shores (lugares oficiais de esconder desvios e fugas aos impostos).

Esta realidade, que ofende a dignidade humana, tem graves consequências para as famílias, pois muitas perderam a habitação, o trabalho e outras condições para viver, deixando de poder assegurar o acesso à educação, à cultura, à saúde ou à justiça, direitos humanos fundamentais.

O Papa Francisco identificou três instrumentos fundamentais para a inclusão social dos mais necessitados: a instrução, o acesso à saúde e o trabalho para todos.

 

Trabalho, dimensão fundamental da pessoa humana

A LOC/MTC tem-se batido, ao longo dos últimos anos, por trabalho para todos. o Papa Francisco, o Bispo de Beja e todos os que ainda não perderam a capacidade de indignação, continuam a teimar na exigência de “trabalho para todos”. Será isto uma miragem?

O trabalho é uma das dimensões fundamentais da pessoa humana e a situação de desemprego é uma humilhação tal que afeta a própria consciência da dignidade humana, tornando o desempregado num marginal à força, considerado um desqualificado. O trabalhador tem de perceber o seu valor e continuar a afirmar e defender o direito ao trabalho digno, através da organização dos trabalhadores nos seus sindicatos e da reativação da Contratação Coletiva de Trabalho.

Mas, os desempregados, os precários, os pobres estão aí! São uma realidade cada vez maior que não podemos esconder. E a nós, cristãos faz-se a pergunta: “Que fizeste do teu irmão?”. Devemos reconhecer que também nos “deixamos levar” pelo deus chamado “consumo”, e que é preciso mudar, buscar outro estilo de vida, olhar e atender quem não ganha o pão com o seu trabalho por falta de emprego. O rosto do sofrimento tem que ser colocado no centro do nosso Compromisso Cívico e Cristão,agindo, contra os bloqueios, pelo relacionamento e pela formação, na defesa do emprego, da redução do tempo de trabalho, da valorização do salário, da gestão dos saberes e do adequado uso das tecnologias.

As precariedades e as inseguranças não podem ser normalidade. Valorizando o trabalho é possível diminuir o sofrimento, haver mais criatividade, mais dignidade e felicidade, ter vida própria e participar na cidadania. Batermo-nos por “trabalho para todos” é também um grito. Não será possível que as novas tecnologias não tenham também a possibilidade de imaginar, reorganizar e distribuir, de modo novo o trabalho e ser colocadas ao serviço do bem comum?

É preciso revitalizar as organizações e o Congresso da LOC/MTC, de que estes encontros são preparatórios, deve dar essa afirmação, a partir dos conteúdos excecionais do Para Francisco.

Estar comprometido na ação transformadora

No imediato temos que ser solidários junto de pessoas e instituições em dificuldade, mas, também, ser porta-vozes de escolhas e decisões que humanizem o trabalho, exigindo que cada pessoa que trabalhe tenha um contrato de trabalho com condições que dignifiquem a sua vida e a das suas famílias.

É preciso promover a cultura do encontro entre as pessoas e entre as gerações e investir na formação, evangelização e humanização dos trabalhadores, no sentido da justiça, através do Evangelho, e do que ensina a Doutrina Social da Igreja sobre o trabalho, a economia, o destino universal dos bens e os direitos humanos.

E tomar consciência que as questões de hoje são globais, tudo é global: Seja pelo lado da economia, das relações laborais, dos pobres, pelo que se torna mais premente trazer para a praça pública a questão do “Bem comum” e de “Cuidar do mundo”, como a nossa casa comum, como nos diz o papa Francisco na encíclica LAUDATO SI.

Não ficaremos indiferentes e estaremos comprometidos e empenhados na ação transformadora, fazendo pressão em conjunto com sindicatos e outras organizações para que surjam leis que acabem com todo o tipo de precariedade, com a pobreza e dignifiquem e salvaguardem a pessoa na sua integridade.

 

Equipa Executiva Nacional da LOC/MTC