A LOC – Movimento de Trabalhadores Cristãos promoveu no dia 12 de Março um encontro de formação e debate sobre o tema “Humanizar, conhecendo e enfrentando os medos, no mundo do trabalho”.

Este encontro que decorreu na Casa do Monte, em Lorvão, reuniu militantes das dioceses de Coimbra, Aveiro e Guarda e contou com a participação do Dr Custódio Oliveira para o aprofundamento do tema.

Há semelhança de outros encontros interdiocesanos que foram realizados também na região Norte e na região Sul, esta iniciativa vem no seguimento de uma reflexão que está a ser feita nos vários grupos da LOC de todo o país, a partir da realidade da vida dos trabalhadores, sobre os medos no local de trabalho.

Da síntese nacional das Revisões de Vida efectuadas pelos grupos destacamos as seguintes preocupações:

-         Há medo porque, hoje em dia, é muito fácil despedir os trabalhadores sem grandes custos. O medo de perder o emprego atravessa todos os sectores da sociedade pois os trabalhadores têm consciência que os despedimentos estão facilitados.

-         O modelo de organização de trabalho e de sociedade e da economia não estão conformes à dignidade da pessoa humana. O medo é uma estratégia que os detentores do dinheiro usam para continuar a dominar. O medo é provocado, alimentado e manipulado. Vale tudo em nome do lucro, é a tirania do dinheiro.

-         Não é justo nem humano trabalhar sob pressão, medos ou chantagens. O medo oprime e escraviza. Só haverá verdadeiro sucesso empresarial se todos se sentirem bem, realizados e estiverem à-vontade para dizerem o que pensam e sentem (trabalhadores e chefias).

Jesus veio para libertar os oprimidos, deu voz aos excluídos, ajudou a levantar quem se encontrava derrotado. Não podemos sucumbir perante toda esta estratégia do medo imposta por quem só vê lucro, oportunidade, ganância. “Deus não nos concedeu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de bom senso” (2Tim 1,7). “Valemos muito mais do que os passarinhos” (Mt 10,28-31) e nem sempre temos esta perceção. O momento que vivemos constitui um desafio que exige, aos partidos e instituições políticas e sociais, a mobilização informada e esclarecida da cidadania na procura de soluções alternativas para uma sociedade sustentável mais justa e mais democrática.

A exposição, que contou com a colaboração do Dr. Custódio Oliveira, iniciou por enquadrar o “ medo” como uma variável determinante da comunicação neoliberal e extremista e como uma emoção que tem pouco de racional, pode ser fabricado ou ser mesmo fator de manipulação para nos alterar comportamentos individuais e mesmo coletivos. Pode ser mesmo coercivo por isso temos que ter esta consciência e reagir.

Não nos podemos deixar enganar quando nos falam em factos alternativos que não são se não mentiras, assim como quando nos fazem crer que não há alternativa, há sempre uma alternativa. Por isso temos que ser interpelativos “ Onde estão hoje os direitos humanos? E os valores cristãos?”

A sociedade tem evoluído imenso ao longo da história, o homem há cerca de 300 anos atrás tinha um trabalho simples, vivia do cultivo das terras e da força dos animais, com a revolução industrial apareceu a máquina, a produção em série, a organização do trabalho transformou-se. A estrutura familiar foi alterada, a mulher adquiriu outras competências, havia trabalho para todos e a agricultura que ocupava cerca de 95% da população passou a ocupar apenas 10%. A sociedade evoluiu: o poder foi redistribuído, nasceu o conceito de direitos humanos, pois com a indústria há mais concentração de pessoas, mais democratização e inovação. Mas este desenvolvimento levou progressivamente á substituição do homem pela máquina; conhecem-se grandes empresas que chegaram a ter 7.000 funcionários e hoje necessitam apenas de 600 embora produzam muito mais, e o mesmo se passa na agricultura. Sabe-se hoje que os mercados tem mais poder que os governos. O homem como centro da sociedade e a ética que devia ser uma questão primordial na regulação e repartição das riquezas é ignorada e anulada. As marcas e multinacionais que nem chegamos a conhecer o rosto impõem regras sem ter em consideração o Homem. Muitas mudanças: na era rural, o trabalho era na terra, e na era industrial, o trabalho estava na fábrica, mas e agora? A mudança é inevitável! Contraditoriamente, hoje, concentra-se o trabalho todo em algumas poucas pessoas, que nunca trabalharam tanto, enquanto outros não têm trabalho. O trabalho é um bem precioso, mas não há nada que diga que tem que ser de oito horas ou mais horas diárias, o que tem é que ser repartido, pois o trabalho dignifica o homem, tal como o afirma o papa Francisco, deveria ser dividido por todos (2-3-4h por dia) e assim o tempo e a disponibilidade para a família e para a natureza seria maior.

Estamos neste momento a viver uma nova revolução, onde está tudo desregulado: os direitos do homem; a família tradicional; a organização política. Como disse o Papa Francisco, “A humanidade vive neste momento um momento de viragem”, por isso não temos razão para ter medo! Há motivos fortes para termos esperança! Ao longo da história a humanidade caminhou sempre para melhor, a síntese vai ser sempre um avanço, mesmo que agora, sobretudo para aqueles que atravessam um momento difícil isso pareça difícil de acreditar. A mudança vai acontecer sempre mais devagar do que desejamos e o nosso maior desafio enquanto militantes é evitar que haja excluídos nesta nova sociedade a construir. O futuro depende em grau elevado de todos nós, depende dos nossos valores, da nossa fé, das nossas motivações, de entender a vida como forma de relação com o outro e não de competição e também da nossa capacidade de VER, JULGAR e AGIR, da nossa capacidade de envolver e desafiar outros, do nosso esforço para que esse futuro melhor, seja para toda a humanidade.

Este encontro terminou com a celebração da Eucaristia, onde alimentamos o nosso compromisso por um mundo mais digno e solidário.

 

Lorvão, 12 Março 2017