De 6 a 9 de Outubro de 2016, realizou-se em Pombal, Diocese de Coimbra, um Seminário Internacional de Formação sob o tema: “Família e Instabilidade Social - Como conciliar as dificuldades familiares com falta de condições económicas, elevado desemprego, falta de emprego para jovens e as Migrações”, promovido e organizado pela LOC/MTCcom o apoio financeiro do EZA-Centro Europeu para os Assuntos dos Trabalhadores e da União Europeia, no qual participaram cerca de 60 pessoas, do KAB da Alemanha, ACO, HOAC e H+D de Espanha; BASE-FUT; CFTL; FIDESTRA, FTDC, CNJP, LOC/MTC, JOC, MAAC e PASTORAL OPERÁRIA, de Portugal, MTCE da Europa, e do EZA.

A sessão de abertura foi presidida pelo bispo de Coimbra, D. Virgílio Nascimento, que se congratulou com a iniciativa internacional na sua diocese. Realçou o papel da família no contexto atual, como lugar por onde passa a vida das pessoas, reforçando o papel fundamental do trabalho como suporte da vida familiar, afirmando: «Não podemos ficar apenas pelas questões reivindicativas, mas devemos apostar na justiça e no desenvolvimento». Por sua vez José Paixão, coordenador nacional da LOC/MTC, saudou os participantes nacionais e estrangeiros bem como as organizações que representavam, fez breves referências à situação das famílias em Portugal com uma alusão ao dia internacional sobre o Trabalho Digno celebrado neste dia – 7 de Outubro – e apontou os objetivos do Seminário. Catarina Silva vereadora dos Recursos Humanos e Ação Social, da Câmara Municipal de Pombal, fez uma ligeira apresentação da situação laboral e social do seu Conselho e referiu a família como algo de muito importante e que o Município tem desenvolvido ações que ajudam a conciliar a vida familiar com o trabalho. João Paulo Branco, do conselho de administração do EZA, informou das atividades do EZA e falou da importância destes seminários que acontecem por toda a Europa, afirmando ser necessário enaltecer o papel da família em contexto laboral, para que esta «economia que mata», se transforme e se coloque ao lado das famílias.

Nas diversas sessões participaram como oradores: Jorge Cotovio, doutorado em Ciências da Educação e diretor do Secretariado da Pastoral Familiar da Diocese de Coimbra; Lisandra Rodrigues, Terapeuta da Fala e presidente da Juventude Operária Católica; Filipe Garcia Mateos, sacerdote na diocese de Plasencia e ex-secretário do departamento da Pastoral Operária da Conferencia Episcopal Espanhola; Manuel Carvalho da Silva, professor universitário e coordenador do centro de estudos sociais de Lisboa.

Foram abordados os modelos de famílias, atuais, e o que estes representam para a organização da sociedade e o diálogo social. Perante as diferentes realidades foi lançada uma interrogação: afinal que família se pretende para a sociedade atual? Uma família coesa, estável e se possível unida pelo sacramento do matrimónio; uma família que saiba assumir e respeitar os compromissos, e, feito um apelo: aproveitar e potenciar todas as formas de organização familiar, mesmo aquelas que não estão configuradas com a nossa forma de pensar. Também aí existem “riquezas”, também aí existe potencial.

Houve uma reflexão sobre as consequências do desemprego e da falta de emprego jovem na instabilidade das famílias. Foi a voz dos jovens e o seu clamor que se fez ouvir, neste seminário, perante uma sociedade discriminatória que cria precariedade e desemprego juvenil, expulsa os jovens para emigração e convive indiferente com o fenómeno: «Nem, Nem» ou «NEET», jovens sem estudos e sem emprego, no abismo da exclusão social. Quando a economia mata socialmente as pessoas também mata as famílias e nelas os jovens. «O bem-estar da avó há de influenciar o bem-estar do neto». Há muitos números e estatísticas contraditórias sobre a vida dos jovens, mas mais importante que os números são os jovens – pessoas com rosto – nada vale mais que a sua dignidade. Os jovens passaram a ter consciência de que o futuro não lhes é promissor.

Numa mesa redonda com representantes da LOC/MTC e BASE/FUT de Portugal, ACO de Espanha e KAB da Alemanha, os participantes partilharam as realidades que vivem hoje as famílias em cada um destes países, no que respeita às suas dificuldades económicas e sociais e às causas que impedem a sua sustentabilidade e desenvolvimento no continente europeu e, em particular, na Alemanha, Espanha e Portugal. Foi sublinhada a situação da pobreza infantil, mesmo nos países considerados mais ricos, devido ao empobrecimento das famílias.

Os participantes no seminário tiveram oportunidade de conhecer, na Câmara Municipal de Pombal, a forma como é coordenada toda a atividade dos cerca de 500 trabalhadores autárquicos, para conciliar o emprego com a família, e avaliar uma série de boas práticas que favorecem o bom relacionamento de trabalho e apoio à vida familiar, exemplo que pode ser aplicado em empresas privadas, noutros municípios e na função pública, sem colocar em causa os orçamentos, porque, trabalhadores motivados são uma mais-valia para o país e para a sociedade.

Concluímos que “Sem trabalho digno, não é possível a vida familiar”. Esta realidade fez-nos pensar no papel das organizações cristãs de trabalhadores e dos cristãos individualmente com vista à implementação de uma nova vivência social e familiar. Existem demasiadas famílias em risco de exclusão, a crise aumentou o desemprego e as desigualdades. A economia só vê o lucro, e nós cristãos, não o podemos permitir, porque o primado da economia e desta sociedade tem de ser o Homem. Os desafios são muitos. É urgente dignificar as famílias com trabalho digno, tempo para a cultura, para o lazer, para o encontro dos seus membros, para Amor. Impõe-se promover a consciência social dos direitos da família, reivindicar verdadeiras e autenticas políticas sociais, tarefa eclesial de evangelização que cabe a cada um dos militantes cristãos. «O trabalho torna possível simultaneamente o desenvolvimento da sociedade, o sustento da família e também a sua estabilidade e fecundidade» (AL 24). Agir com consciência para vencer medos, e reafirmar a força da família como célula importante para a dinamização da sociedade. Cabe a todos questionar como está distribuída a riqueza produzida pelo trabalho e incentivar um maior empenhamento nas organizações políticas e sociais, como apela o Papa.

Na certeza que há alternativas ao modelo económico vigente, que recusa um lugar digno para todos, conclui-se, como imperativo, promover: A organização da sociedade e o diálogo social, para que dignifiquem a pessoa e implementem políticas de trabalho amigas das famílias com definição e equilíbrio de tempos: de trabalho, descanso, cultura, lazer e Amor; A garantia, com urgência, de emprego, estabilidade e segurança para os jovens, principalmente, os que terminam a escolaridade; E garantir o trabalho digno para todos, o que é possível com outra organização da sociedade que coloque a pessoa e a justa distribuição da riqueza, em primeiro lugar, pois o primado da economia e desta sociedade tem que ser o Homem.

Equipa Executiva Nacional da LOC/MTC