A LOC/MTC - Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos promoveu, na Paróquia de Leça do Balio, Diocese do Porto, no dia 10 de Junho de 2018, um Encontro Nacional, com o objetivo de partilhar, num ambiente familiar e solidário, a vivencia da LOC/MTC e as suas angustias e esperanças, procurando identificar a presença de Deus no meio das contradições do mundo laboral de hoje, e de estimular o compromisso de participação mais ativa dos trabalhadores cristãos nas organizações da sociedade e na democratização das instituições públicas e privadas, na busca de uma Sociedade mais justa e fraterna.

A LOC/MTC no caminho dos trabalhadores

O último Encontro Nacional foi em 2015. Na preparação e na sequência do XVI Congresso Nacional da LOC/MTC, realizado em 2016, foram relatadas muitas e diversas situações que identificam a grave situação que se vive no mundo laboral; esgotamento, desmotivação, angústia, baixas frequentes, recurso a medicamentos antidepressivos, incapacidade de satisfazer compromissos assumidos pelo aumento do custo de vida e sem o acompanhamento dos salários, requisição para horas extraordinárias no próprio dia, jovens licenciados a ganhar o salário mínimo ou alternando emprego com desemprego, a adiar a constituição de família ou a decisão de ter filhos consequência da desvalorização e desumanização do trabalho, da precariedade, da flexibilização, da destruição das defesas dos trabalhadores, do assédio moral e dos medos provocados, estratégias usadas contra os trabalhadores; Consequência também do fomento da competitividade e da cultura do mérito entre trabalhadores que são criadoras de injustiças e de grupos de privilegiados, que têm todas as condições, incluindo remuneratórias, ao lado de uma grande massa de precários, flexibilizados, descartados.

Encontrámos também maior sensibilidade e esforço na humanização do ambiente de trabalho, proximidade para com os trabalhadores, empenho na sua formação, preocupação com a sua saúde e com o bem-estar das suas famílias.

Nos últimos anos respira-se entre nós algum alívio com a reposição de direitos sociais, reposição de feriados, aumento do salário mínimo e pensões sociais e com a descida do desemprego. No entanto a sede de lucro e a ganância não desarmam nos seus intentos. Os investidores não conhecem as empresas nem os trabalhadores e não dão a cara por elas. Aplicam dinheiro a pensar em dinheiro. Continuam a comprar empresas mais pequenas para as sugar e depois as deitar fora com os seus trabalhadores, como se fora lixo.

A economia está focada no lucro e não nas pessoas trabalhadoras.O modelo de organização de trabalho, da sociedade e da economia não está conforme a dignidade da pessoa humana. E o Estado, ao lado e a precisar dos investidores, dá mostras de impotência, “domesticado” e inoperante na defesa dos trabalhadores e do bem comum, a par de muitos sinais de corrupção.

É tudo isto que torna necessário e urgente “Humanizar e Evangelizar o Mundo do Trabalho” (Lema do Congresso da LOC/MTC para estes três anos).

Trabalhadores Cristãos reunidos na Paróquia de Leça do Balio, Diocese do Porto,

Declaramos:

-Que o trabalho marca e determina a vida pessoal, familiar e social. Tem a ver com o afecto, com o desenvolvimento da inteligência, com a capacidade de acolher as fraquezas, com a maturidade. Tem a ver com o relacionamento familiar esponsal e paternal/maternal. Tem a ver com a construção da democracia, com a participação nas diversas coletividades, com a cultura. Trabalho não é uma mercadoria. O trabalho é inseparável da vida. Trabalho digno é felicidade.

-Que os Evangelhos nos transmitem a importância de caminhar juntos: Jesus enviou dois a dois, constituiu uma equipa de doze, e as primeiras comunidades cristãs eram conhecidas pela sua relação de amor e entreajuda: “Vede como eles se amam”. A acrescentar a isto a preocupação em cuidar dos mais pobres, das viúvas, dos órfãos, dos estrangeiros. Ninguém era deixado para trás. O associativismo em geral, e o sindicalismo em particular, estão próximos deste ideal, pois a força dos fracos é a união. A presença do Evangelho na vida dos militantes da LOC orienta-nos para a partilha de vida em pequenos grupos (Equipas de base), para a reflexão e para a ação na atenção aos mais pobres e precários, de modo que ninguém fique de fora dos bens que Deus dá para todos.

-Que a nossa missão cristã se realiza no mundo, e concretamente no mundo do trabalho, pois acreditamos que Jesus Cristo é Boa Notícia para o mundo do trabalho. A fé em Jesus Cristo tem a ver com a vida concreta das pessoas, com a sua felicidade, com o seu bem-estar, também no trabalho. A fé dá à pessoa consciência da sua dignidade, dá força para não se deixar escravizar e para levar esse alento aos colegas trabalhadores.

-Que vamos prosseguir com audácia, humildade e persistência, à maneira de fermento na massa (Mt 13,33), enfrentando medos e incertezas, na busca de uma vida melhor para todos, porque sonhamos um mundo onde todos tenham lugar e dignidade, vida em abundância (Jo 10,10), onde o sucesso e o desenvolvimento consistam em que ninguém fique para trás, apesar de todo um ambiente adverso que remete a fé para o privado, para a “sacristia”, e apesar de muitas vezes incompreendidos, até no interior da Igreja e das comunidades a que pertencemos. Actuaremos perante as tribulações e injustiças cometidas contra os mais desfavorecidos da sociedade. Seremos cidadãos mais ativos e empenhados na denúncia das causas que provocam uma sociedade tão desigual.

-Que vamos continuar a participar na vida pública com sentido de missão: em comissões de utentes, sindicatos e demais organizações de trabalhadores, associações culturais e desportivas, autarquias locais, partidos. Participaremos na transformação do mundo e na ação pela justiça como dever cívico e político e numa dimensão constitutiva do nosso ser cristão. Como trabalhadores cristãos queremos estimular o envolvimento e compromisso na dinamização das organizações da sociedade e na democratização das instituições públicas, participar e acompanhar as suas decisões. A construção da democracia não está acabada e as soluções governativas e, concretamente as leis laborais, não são indiferentes para a vida das pessoas.

Saudamos:

-Os avanços nas novas tecnologias da Robótica, da Digitalização, da inteligência artificial pelo bem que trazem à vida humana e concretamente ao trabalho, mas afirmamos que, na criação de Deus, em primeiro lugar há que cuidar e guardar o humano e defender o bem comum. Este é um contributo da fé cristã para a construção da pessoa e da sociedade. As tecnologias são o que são, são ferramentas ao serviço do homem, da vida familiar e social, não podem sobrepor-se às pessoas.

-O papa Francisco. Ele está a fazer do Trabalho um pilar do seu Pontificado. Na sua reflexão, denúncias e propostas, os trabalhadores estão no centro das suas preocupações. E ligadas a estas, as questões da economia, da participação na construção da democracia, do papel das Organizações dos trabalhadores, da distribuição das riquezas, do cuidado e da dignidade dos pobres. No meio de tudo isto a missão dos cristãos no mundo. Queremos participar de uma Igreja profética, ao lado do Papa Francisco, denunciando esta economia que exclui e mata, e os seus protagonistas, bem como os processos que usam para amedrontar e continuar a acumular, sem que ninguém os incomode.

Apelamos:

Que todos os cidadãos de boa vontade se comprometam também nesta transformação, porque acreditamos que outra sociedade é possível.

Porto, 10 de junho de 2018